A importância do magnésio para a máxima produtividade
Dentre todos os nutrientes, o magnésio é o que ativa o maior número de enzimas (>300) [1]e desempenha, portanto, papel fundamental em inúmeros processos fisiológicos e bioquímicos, particularmente no que diz respeito à tolerância aos estresses abióticos, em condições adversas de produção. O conhecimento desses processos evoluiu muito nas últimas décadas. A redescoberta do magnésio na agricultura se dá no mesmo passo da evolução do conhecimento científico, que desvenda novos e importantes processos, nos quais o magnésio é protagonista e que impactam de forma decisiva no desenvolvimento, produtividade e qualidade [2] das diversas culturas. Os principais e mais recentes papéis atribuídos ao magnésio são apresentados a seguir.
1 – Cloroplastos são organelas que contém os tilacóides – compartimentos que contém Mg e onde a energia solar é convertida em energia química por meio da fotossíntese.
2 – Fotoassimilados são os compostos resultantes da fotossíntese
Fixação fotossintética do dióxido de carbono (CO2)
Sem dúvida, uma das funções mais celebradas do magnésio na literatura é o seu papel como átomo central na molécula de clorofila, que é componente chave para a realização do processo fotossintético. Sob deficiência de magnésio, ocorre o desenvolvimento da clorose internerval (amarelecimento) das folhas. Dependendo do estado nutricional das plantas, entre 6 e 35% do magnésio está nos cloroplastos1 [3]
Isso indica que, além da sua função no processo fotossintético, o Mg é necessário em outros processos fisiológicos. O magnésio é, ao mesmo tempo, componente estrutural da clorofila e, também, necessário para sua síntese. Na maioria dos casos, o envolvimento do Mg nos processos metabólicos depende da ativação de numerosas enzimas. Uma importante enzima ativada pelo magnésio é a ribulose-1,5-bifosfato(RuBP) carboxilase, enzima-chave no processo da fotossíntese e a mais abundante no planeta. Vários trabalhos científicos relatam que uma pequena redução no teor foliar de magnésio tem impacto significativo na taxa fotossintética [4].
Partição, translocação ou transporte de fotoassimilados e crescimento do sistema radicular
Uma das primeiras reações das plantas ao estresse causado pela deficiência de magnésio é um expressivo acúmulo de carboidratos nas folhas, especialmente sacarose e amido e, consequentemente, a alteração da partição da matéria seca entre parte aérea e raiz, resultando no aumento da razão massa seca parte aérea/massa seca raiz.
Este fenômeno ocorre antes que haja mudança perceptível no crescimento da parte aérea, na concentração de clorofila e na taxa de fotossíntese. Isso significa que no campo, quando se percebe a presença de folhas cloróticas, o crescimento do sistema radicular possivelmente já está comprometido, o que é muito crítico para todas as culturas, mas afeta mais pronunciadamente as culturas anuais.
Uma das primeiras reações das plantas ao estresse causado pela deficiência de magnésio é um expressivo acúmulo de carboidratos nas folhas, especialmente sacarose e amido e, consequentemente, a alteração da partição da matéria seca entre parte aérea e raiz, resultando no aumento da razão massa seca parte aérea/massa seca raiz.
Este fenômeno ocorre antes que haja mudança perceptível no crescimento da parte aérea, na concentração de clorofila e na taxa de fotossíntese. Isso significa que no campo, quando se percebe a presença de folhas cloróticas, o crescimento do sistema radicular possivelmente já está comprometido, o que é muito crítico para todas as culturas, mas afeta mais pronunciadamente as culturas anuais.
O teor de magnésio das plantas influi decisivamente no transporte pelo floema de fotoassimilados2 e afeta, sobremaneira, a distribuição de carboidratos entre os órgãos fonte e órgãos dreno, que não são capazes de fotossintetizar, tais como raízes em crescimento, sementes em desenvolvimento, tubérculos, frutos e grãos. Assim, a demanda por magnésio é especialmente alta no estágio de crescimento reprodutivo das plantas [5].
Estudos realizados pelo renomado pesquisador Dr. Ismail Cakmak, relatam o efeito expressivo da deficiência de magnésio no crescimento das raízes. Um sistema radicular pouco desenvolvido limita a absorção de água, nutrientes e, consequentemente, a produtividade das culturas.
Mudanças climáticas bruscas representam o maior desafio contemporâneo à atividade agrícola [6]. De fato, a seca representa o mais importante estresse abiótico limitante do crescimento da agricultura em escala global, com expectativas preocupantes de agravamento deste quadro [7]. Considerando o efeito do magnésio no crescimento radicular, seu papel torna-se cada vez mais importante num mundo com condições climáticas cada vez mais adversas à prática agrícola.
Corroborando com estas observações, destacam-se as pesquisas de mestrado e doutorado recentemente desenvolvidas pela Dra. Dayane Silva, sob orientação do Dr. José Donizeti, UFLA, e pelo Dr. Kaio Dias, sob coorientação dos Dr. Paulo Tácito Gontijo Guimaraes e Dr. Antônio Eduardo Furtini Neto, nas quais se constatou que tanto a deficiência quanto o excesso de Mg desencadearam acúmulo de carboidratos nas folhas do cafeeiro e redução do seu conteúdo nas raízes, o que acarretou um aumento na relação de massa seca parte área e raiz, nas cultivares Catuaí, Acaiá [8] e Mundo Novo [9].
Cakmak comparou também a importância relativa do potássio, fósforo e magnésio no processo de carregamento e transporte de fotoassimilados pelo floema. Dentre estes três macronutrientes, a deficiência de magnésio foi o fator que gerou maior acúmulo de carboidratos nas folhas de feijão e beterraba açucareira, indicando um papel preponderante do magnésio neste processo [10], [11]. Já se reconhece há muito tempo que o potássio estimula o processo de carregamento dos fotoassimilados no floema. Porém, é relativamente recente a descrição de evidências para um papel similar, ou mesmo mais relevante, exercido pelo magnésio neste mesmo processo fisiológico.
Mitigação dos estresses causado pela luz e calor:
As plantas deficientes em magnésio são extremamente afetadas pela alta intensidade luminosa e pelo calor. O acúmulo massivo de carboidratos nas folhas, citado na seção anterior, prejudica o processo de fixação fotossintética do CO2 e potencializa a formação, nas folhas, das chamadasespécies de oxigênio reativas (EROs), também denominados radicais livres, tais como superóxido (O2-), peróxido de hidrogênio (H2O2) e radicais hidroxilas (OH-). A fotooxidação ou necrose dos tecidos foliares, que ocorre nas plantas deficientes em Mg expostas à alta intensidade luminosa, comumente chamado de escaldadura, tem sido atribuído à maior geração nos cloroplastos das EROs [10], [12]. A formação dos radicais livres é a
consequência do redirecionamento do excesso de energia luminosa que não está sendo utilizada no processo fotossintético de fixação de CO2.
Especificamente no cafeeiro, os trabalhos da Dra. Dayane e do Dr. Kaio comprovaram que o acúmulo de carboidratos nas folhas levou a uma maior produção de radicais livres nas folhas de diferentes cultivares, Cautaí e Acaiá [8], e Mundo Novo [9], principalmente em plantas expostas a maior irradiância.
Efeito do sombreamento parcial no desenvolvimento de clorose e necrose em folhas de feijão deficientes em magnésio, sob exposição à alta intensidade luminosa
Observa-se na figura que a parte da folha mais velha que foi sombreada pela folha mais nova permaneceu verde, enquanto a parte que foi exposta a irradiância plena apresentou sintomas de escaldadura. Nota-se ainda que a folha mais nova que foi totalmente exposta a irradiância plena, mesmo apresentando menor proteção física, permaneceu verde. Isso ocorreu, pois, a escaldadura é causada por danos fotooxidativos e não se trata de um processo puramente físico. Trata-se de uma importante evidência que o Mg, que é móvel na planta, possui papel importante na proteção das folhas contra os danos da fotooxidação.
Em resumo, a manutenção de níveis nutricionais adequados de Mg nas plantas é essencial para evitar a formação das EROs, que ocorrem às custas da inibição da exportação de carboidratos pelo floema e da redução da fixação de CO2, particularmente sob condições de alta intensidade luminosa e calor.
Carreador de fósforo
A expressão que o magnésio é um carreador de fósforo existe na literatura deste 1901, decorrente, principalmente, da constatação de que sempre há uma correlação positiva ou sinergia entre o P e o Mg [13]. Um trabalho de extrema relevância de coautoria da Dr. Ana Paula Neto e Dr. José Laércio Favarin, ESALQ, comprovou o efeito sinérgico da nutrição com magnésio no aumento da absorção do fósforo pelo cafeeiro. Concluiu-se que, o fornecimento de 2 mmol de Mg aumenta oito vezes a Vmax e 84% a constante de Michaelis-Menten, quando comparado ao teor de 0,02 mmol de Mg [14].
O Dr. Kaio Dias [9] também verificou o efeito sinérgico do magnésio na absorção de fósforo utilizando mudas da cultivar Mundo Novo IAC 379/19.
A deficiência de fósforo tem sido apontada como um importante fator limitante da produtividade no cafeeiro [15]. A suplementação de valores adequados de magnésio no solo potencialmente contribui para melhor aproveitamento da adubação fosfatada.
Neutralização do alumínio tóxico trocável:
A biodisponibilidade do alumínio é um dos mais sérios fatores limitantes da produtividade em solos ácidos (pH <5,5). Quando o pH está abaixo de 5,5, os minerais aluminosos do solo começam a se dissolver liberando Al3+ tóxico, na forma trocável e que concorre com os outros cátions pelos sítios de absorção [16].
Mesmo em concentrações micromolares, o Al causa uma rápida inibição do crescimento do sistema radicular, implicando em menor absorção de água e nutrientes pelas plantas. Ambos os íons Al3+ e Mg2+ estão em solução sob a forma de íons hexahidratados, com raios iônicos hidratados muito similares, sendo Al3+ (0,480 nm) e Mg2+ (0,476 nm). Assim, o sistema de absorção de Mg2+ e o os sítios de ligação nas enzimas ativadas pelo Mg2+ não distinguem muito bem entre Al3+ e Mg2+ [1].
Devido ao potencial de lixiviação do Mg em solos altamente intemperizados e à sua interação com alumínio, a deficiência de Mg é uma preocupação crucial em solos ácidos.
Um dos bem documentados mecanismos de adaptação das plantas a solos ácidos é a liberação de ânions de ácidos orgânicos nas raízes. Estes ânions de ácidos orgânicos, como o citrato por exemplo, formam quelatos com os íons tóxicos de Al3+ formando complexos Al-ácido orgânico que não são fitotóxicos. Está bem documentado que o Mg é necessário para a liberação efetiva de ânions de ácidos orgânicos nas raízes, modificando a rizosfera intoxicada com Al [17], [18].
Assim como o Mg, também o Ca é importante na diminuição da toxidez de Al em solos ácidos. No entanto, o Mg pode ter ação protetora contra a toxicidade de alumínio quando adicionado em níveis micromolares, enquanto o Ca exerce seu papel protetor em concentrações milimolares [19]–[21]. O estudo realizado por Silva [20] indicou que o magnésio pode ser ainda mais eficiente do que o cálcio na redução da toxidez do alumínio para o crescimento das raízes das plantas. As doses de 2 mmol/L ou 10 mmol/L de magnésio, na presença de 15 mol/L de Al3+, aumentaram o crescimento da raiz principal de soja em quatro vezes e das raízes laterais por um fator de 65.
Esse resultado indica que o Mg tem benefícios muito específicos na proteção da planta contra a toxicidade de Al.
Referências bibliográficas:
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[2] J. Gerendás and H. Führs, ͞The significance of magnesium for crop quality,͟Plant Soil, vol. 368, no. 1–2, pp. 101–128, 2013.
[3] I. Cakmak and E. A. Kirkby, ͞Role of Magnesium Nutrition in Growth and Stress Tolerance,͟ in Proceedings 612, 2007.
[4] P. Marschner, Marchner’s Mineral Nutrition of Higher Plants, 3a ed. Elsevier, 2012.
[5] V. Römheld and E. A. Kirkby, ͞MAGNESIUM FUNCTIONS IN CROP NUTRITION AND YIELD,͟ in International Fertiliser Society, 2007, vol. 616, no. December, pp. 1–23.
[6] E. A. Ainsworth and D. R. Ort, ͞How Do We Improve Crop Production in a Warming World?,͟Plant Physiology, vol. 154, no. 2. pp. 526–530, 2010.
[7] D. S. Battisti and R. L. Naylor, ͞Historical Warnings of Future Food Insecurity with Unprecedented Seasonal Heat,͟Science (80-. )., vol. 323, no. January, pp. 240–244, 2009.
[8] D. Meireles and D. A. Silva, ͞Deficiência de Magnésio na Fisiologia e no Metabolismo Antioxidante de Cultivares de Cafeeiro,͟2013.
[9] K. G. de Li. Dias, ͞Nutrição, Bioquímica e Fisiologia de Cafeeiros Supridos com Magnésio,͟ UFLA, Lavras – MG, 2015.
[10] I. Cakmak and E. A. Kirkby, ͞Role of magnesium in carbon partitioning and alleviating photooxidative damage,͟Physiol. Plant., vol. 133, no. 4, pp. 692–704, 2008.
[11] H. Marschner, E. A. Kirkb, and I. Cakmak, ͞Effect of mineral nutritional status on shoot-root partitioning of photoassimilates and cycling of mineral nutrients,͟J. Exp. Bot., vol. 47, pp. 1255–1263, 1996
[12] M. Mengutay, Y. Ceylan, U. B. Kutman, and I. Cakmak, ͞Adequate magnesium nutrition mitigates adverse effects of heat stress on maize and wheat,͟Plant Soil, vol. 368, no. 1–2, pp. 57–72, 2013.
[13] M. Vichiato, J. G. de Carvalho, M. R. de M. Vichiato, and C. R. de R. e. Silva, ͞Interações fósforo-magnésio em mudas de mamoeiros tainung no. 1 e improved sunrise solo 72/12,͟Ciência e Agrotecnologia, vol. 33, no. 5, pp. 1265–1271, 2009.
[14] A. P. Neto, J. L. Favarin, P. P. T. Carvalho, T. Tezotto, and K. M. de Souza, ͞Cinética de absorção de fósforo em razão do teor de magnésio em cafeeiro,͟ in VIII Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, 2013.
[15] F. L. Partelli, H. D. Vieira, and A. N. da Costa, ͞Diagnóstico nutricional em cafeeiro conilon orgânico e convencional no Espírito Santo, utilizando o DRIS,͟Ciência Rural, vol. 35, no. 6, pp. 1456–1460, 2005.
[16] S. Silva, ͞Aluminium Toxicity Targets in Plants,͟J. Bot., vol. 2012, pp. 1–8, 2012.
[17] J. L. YANG, J. F. YOU, Y. Y. LI, P. WU, and S. J. ZHENG, ͞Magnesium enhances aluminum-induced citrate secretion in rice bean roots (Vigna umbellata) by restoring plasma membrane H+-ATPase activity,͟Plant Cell Physiol., vol. 48, no. 1, pp. 66–74, 2007.
[18] I. R. Silva, T. J. Smyth, D. W. Israel, C. D. Raper, and T. W. Rufty, ͞Magnesium ameliorates aluminum rhizotoxicity in soybean by increasing citric acid production and exudation by roots,͟Plant Cell Physiol., vol. 42, no. 5, pp. 546–554, 2001.
[19] I. R. Silva, T. J. Smyth, D. W. Israel, C. D. Raper, and T. W. Rufty, ͞Magnesium is more efficient than calcium in alleviating aluminum rhizotoxicity in soybean and its ameliorative effect is not explained by the Gouy-Chapman-Stern Model,͟Plant Cell Physiol., vol. 42, no. 5, pp. 538–545, 2001.
[20] I. R. Silva, A. Ferrufino, C. Sanzonowicz, T. J. Smyth, D. W. Israel, and T. E. Carter Júnior, ͞Interactions between magnesium, calcium, and aluminum on soybean root elongation,͟Rev. Bras. Cienc. do Solo, vol. 29, no. 5, pp. 747–754, 2005.
[21] I. R. Silva, T. J. Smyth, D. W. Israel, and T. W. Rufty, ͞Altered aluminum inhibition of soybean root elongation in the presence of magnesium,͟Plant Soil, vol. 230, no. 2, pp. 223–230, 2001.
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